Hoje, quero propor alguns pensamentos sobre discernimento. Discernir quer dizer: dividir em profundidade, penetrar no interior, simpatizar com o evento humano por ser humano; por isso, implica projetos, esperanças, ilusões, desejos, sofrimentos.
A arte do discernir pede muita experiência, pertence aos anciãos, e se desenvolve no intercâmbio espiritual com outros que tenham experiência de vida espiritual. Nessa, é relevante ter um guia e confiar nele. Por isso, é muito útil alguém que oriente, um pai no Espírito com quem partilhar os pensamentos do coração e, com sua ajuda, fazer discernimento. De fato, na busca da vontade de Deus, nenhum cristão pode ignorar a Igreja, seus carismas e ministérios.
Um bonito exemplo de discernimento – recorda o Papa Francisco na EG, 84 – nos foi oferecido pelo Papa João XXIII naquele memorável 11 de outubro de 1962 (abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II), quando disse: ‘Chegam-nos aos ouvidos insinuações de almas, ardorosas sem dúvida no zelo, mas não dotadas de grande sentido de discrição e moderação. Nos tempos atuais, não veem senão prevaricações e ruínas. Mas a nós parece-nos que devemos discordar desses profetas de desgraças, que anunciam acontecimentos sempre infaustos, como se estivesse iminente o fim do mundo’.
Significativas, também, as palavras do Papa Bento XVI, na Carta Encíclica Caritas in Veritate, 21: ‘A complexidade e gravidade da situação econômica atual preocupa-nos, com toda a justiça, mas devemos assumir com realismo, confiança e esperança as novas responsabilidades a que nos chama o cenário de um mundo que tem necessidade de uma renovação cultural profunda e da redescoberta de valores fundamentais para construir sobre eles um porvir melhor. A crise obriga-nos a projetar de novo o nosso caminho e torna-se ocasião de discernimento e elaboração de nova planificação. Com essa chave, feita mais de confiança que resignação, convém enfrentar as dificuldades da hora atual.
