A escuta como acolhida

0

A acolhida tem sido um assunto recorrente no seio da Igreja Católica. No processo de escuta sinodal – que nossa Igreja acabou de vivenciar em nível diocesano –, em quase todos os relatórios paroquiais e de movimentos, a palavra acolhida estava presente. Infelizmente, estava presente mais no sentido da carência que da efetividade. Embora façamos parte de um povo conhecido por sua acolhida e hospitalidade, pecamos e falhamos neste processo justamente no lugar em que ele deveria ser mais efetivo e eficaz.

Muitas vezes não compreendemos bem o que vem a ser esta acolhida. Imaginamos tal tarefa delegada a um grupo específico que deve desempenhá-la em momentos pré-estabelecidos, como nas portas da igreja antes da Missa, entregando folhetos e dando saudações de boas-vindas. Mas a acolhida, mais que uma ação pontual, deve ser uma marca, uma cultura, um processo amplo e orgânico. Não devemos nos prender ao ideal de uma pastoral da acolhida, mas ao espírito efetivo de acolhida pastoral.

É neste sentido que a escuta entra como um mecanismo de acolhida. Escutar atentamente o outro é um modo de se interessar por ele e de fazê-lo sentir-se, de fato, acolhido e inserido no seio da comunidade. Escutar as alegrias e as esperanças, as angústias e as tristezas, principalmente daqueles que mais sofrem, é um bonito modo de mostrar o quão acolhedora e hospitaleira é a Igreja.

No encontro de Jesus na lar de seus amigos de Betânia, Marta se ocupou da hospitalidade corriqueira, do ritual dos afazeres, da prontidão em servir nas coisas e nas obras: uma atitude tão nobre e necessária. Maria, por outro lado, oferece a acolhida não por meio do muito fazer, mas por meio dos ouvidos: ela dá de sua escuta atenta. Justamente ela é mencionada pelo Cristo como quem escolheu a melhor parte. Ela escolheu a melhor, o que deixa claro que a outra parte, a de Marta, não é ruim ou desprezível, mas que o muito fazer nem sempre é o mais relevante.
Incorremos no risco de pensar que a acolhida e a hospitalidade estão apenas ligadas ao que podemos fazer de objetivo pelo outro, quer em atos ou em palavras. Esquecemo-nos que muitas vezes o que o outro deseja e necessita é de um ouvido atento e de um coração acolhedor capaz de escutar. A escuta com o coração é acolhedora, hospitaleira e terapêutica. Às vezes, isso é tudo que as pessoas precisam, inclusive para se sentirem atraídas à nossa fé. A escuta é uma forma de acolhida! Alcemo-nos a esse ideal: sermos reconhecidos pelo modo como nos amamos e, também, pelo jeito que acolhemos através de nossos ouvidos.

Eudvanio Dias

(3º Artigo da série “Mística da Escuta“)

Fonte

Escreva abaixo seu comentário.

Por favor escreva um comentário
Por favor insira o seu nome aqui