A acolhida tem sido um assunto recorrente no seio da Igreja Católica. No processo de escuta sinodal – que nossa Igreja acabou de vivenciar em nível diocesano –, em quase todos os relatórios paroquiais e de movimentos, a palavra acolhida estava presente. Infelizmente, estava presente mais no sentido da carência que da efetividade. Embora façamos parte de um povo conhecido por sua acolhida e hospitalidade, pecamos e falhamos neste processo justamente no lugar em que ele deveria ser mais efetivo e eficaz.
Muitas vezes não compreendemos bem o que vem a ser esta acolhida. Imaginamos tal tarefa delegada a um grupo específico que deve desempenhá-la em momentos pré-estabelecidos, como nas portas da igreja antes da Missa, entregando folhetos e dando saudações de boas-vindas. Mas a acolhida, mais que uma ação pontual, deve ser uma marca, uma cultura, um processo amplo e orgânico. Não devemos nos prender ao ideal de uma pastoral da acolhida, mas ao espírito efetivo de acolhida pastoral.
É neste sentido que a escuta entra como um mecanismo de acolhida. Escutar atentamente o outro é um modo de se interessar por ele e de fazê-lo sentir-se, de fato, acolhido e inserido no seio da comunidade. Escutar as alegrias e as esperanças, as angústias e as tristezas, principalmente daqueles que mais sofrem, é um bonito modo de mostrar o quão acolhedora e hospitaleira é a Igreja.
No encontro de Jesus na lar de seus amigos de Betânia, Marta se ocupou da hospitalidade corriqueira, do ritual dos afazeres, da prontidão em servir nas coisas e nas obras: uma atitude tão nobre e necessária. Maria, por outro lado, oferece a acolhida não por meio do muito fazer, mas por meio dos ouvidos: ela dá de sua escuta atenta. Justamente ela é mencionada pelo Cristo como quem escolheu a melhor parte. Ela escolheu a melhor, o que deixa claro que a outra parte, a de Marta, não é ruim ou desprezível, mas que o muito fazer nem sempre é o mais relevante.
Incorremos no risco de pensar que a acolhida e a hospitalidade estão apenas ligadas ao que podemos fazer de objetivo pelo outro, quer em atos ou em palavras. Esquecemo-nos que muitas vezes o que o outro deseja e necessita é de um ouvido atento e de um coração acolhedor capaz de escutar. A escuta com o coração é acolhedora, hospitaleira e terapêutica. Às vezes, isso é tudo que as pessoas precisam, inclusive para se sentirem atraídas à nossa fé. A escuta é uma forma de acolhida! Alcemo-nos a esse ideal: sermos reconhecidos pelo modo como nos amamos e, também, pelo jeito que acolhemos através de nossos ouvidos.
Eudvanio Dias
(3º Artigo da série “Mística da Escuta“)