Os critérios da realidade situam-se em dois níveis: a realidade do tempo em que foi escrita a Bíblia; e a realidade do povo que hoje lê a Bíblia. Ambas têm as suas exigências a serem levadas em conta na interpretação.
O intérprete deve transpor-se com o pensamento àqueles tempos antigos do Oriente (Pio XII). Com a ajuda das ciências, ele estabelece o sentido-em-si do texto e o prepara para que o leitor possa descobrir nele o sentido espiritual que lá existe para nós. Ele estabelece algo comum entre os interesses atuais e o assunto do texto, para que se possa estar disposto a ouvi-lo (São Paulo VI).
A Bíblia nasceu da preocupação do povo de reencontrar, na realidade conflituosa de cada época, os sinais da presença e dos apelos de Deus. Por isso, o próprio Jesus explicou a Bíblia partindo da realidade e dos problemas dos discípulos de Emaús: ‘De que vocês estão falando?’ Não basta o intérprete expor o sentido histórico do texto; deve expô-lo também ‘em relação ao homem contemporâneo’ (São Paulo VI). Isto significa levar em conta a realidade atual e ter uma visão crítica desta realidade, para não ser vítima da ideologia dominante.
Assim, usando este duplo critério da realidade, descobrimos o chão comum humano que une o povo de Deus de hoje e o povo de Deus da Bíblia, numa mesma situação diante de Deus, e cria assim a abertura para se perceber o alcance do texto para a nossa realidade.