Com uma videomensagem do Papa, encerrou-se neste sábado o evento “Economia de Francisco”, dirigido a jovens empreendedores de todo o mundo. Num longo discurso, o Pontífice encorajou a juventude mundial a não ter medo de sujar as mãos, sem atalhos, para transformar a economia e, consequentemente, toda a sociedade. Depois da crise, não voltemos a um consumismo febril, mas aproveitemos a oportunidade para nos colocar a serviço do bem comum.
Bianca Fraccalvieri – Vatican News
“Para mim, este encontro virtual em Assis não é um ponto de chegada, mas o impulso inicial de um processo que somos convidados a viver como vocação, como cultura e como pacto.”
Assim, o Papa Francisco define a “Economia de Francisco”, evento virtual que se encerrou este sábado e que, a partir de Assis, reuniu milhares de participantes em todo o mundo.
“Mais humano do que o outro”
O Pontífice agradeceu a participação numerosa e falou palavras de encorajamento aos jovens citando as encíclicas Laudato si e Fratelli tutti, mas também com referências a seus predecessores São Paulo VI, São João Paulo II e Bento XVI.
Francisco deu voz à juventude que, como ele, é concorde em afirmar que “precisamos e queremos uma mudança”, sem se deixar levar pela lógica do “sempre foi assim”.
Hoje, as injustiças, as desigualdades, a exclusão não são mais toleradas. A cultura do descarte deve ter os seus dias contados. Ninguém tem o direito de se sentir “mais humano do que outro”.
Se é urgente achar respostas, é indispensável fazer crescer e apoiar grupos dirigentes capazes de elaborar cultura, iniciar processos – “não se esqueçam desta palavra: iniciar processos” – traçar percursos, alargar horizontes e criar pertenças.
Mística do bem comum
Para isso, é imprescindível mudar estilo de vida e os modelos de produção e consumo e retornar “à mística do bem comum”. “A fome não depende tanto da falta material, mas da falta de recursos sociais”, disse Francisco citando o Papa emérito.
O Santo Padre recordou uma experiência que fez muitos anos atrás, ainda na Argentina, na década de 1970 – uma experiência que pode ser vivida também no Brasil: a dos condomínios fechados.
É tempo de ousar
É por isto que é “tempo de ousar o risco de favorecer e estimular modelos de desenvolvimento, de progresso e de sustentabilidade em que as pessoas, e especialmente os excluídos, entre os quais a irmã terra, deixem de ser uma presença meramente funcional, para se tornar protagonistas de sua vida, assim como de todo o tecido social. (…) Não pensemos por eles, mas com eles”.
Em outras palavras, política e economia devem estar a serviço da vida, especialmente da vida humana. A medida do desenvolvimento é a humanidade. Sem esta centralidade e orietanção, ficaremos prisioneiros de um círculo alienante que somente perpetuará dinâmicas de degradação, exclusão, violência e polarização.
A propósito, disse ainda o Papa, descreditar, caluniar ou descontextualizar o interlocutor que não pensa como nós é “um modo de se proteger covardemente das decisões que eu deveria assumir para resolver muitos problemas”.
Sujar as mãos, sendo fermento
A perspectiva do desenvolvimento humano integral é uma boa notícia a profetizar e aplicar, disse ainda o Papa. Ecomo se faz? Sem atalhos, mas sujando as mãos, sendo fermento. “Passada esta crise sanitária que estamos vivendo, a pior reação seria cair ainda num febril consumismo e em novas formas de autoproteção eogísta. Colhamos a oportunidade e coloquemo-nos todos a serviço do bem comum. Que no final não existam mais ‘os outros’, mas um grande ‘nós’.”
Eis então a exortação final de Francisco: