Quaresma e Campanha da Fraternidade 2022 – Parte 1

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O tempo quaresmal é um tempo privilegiado de conversão. Por meio dos exercícios quaresmais (esmola, oração e jejum) somos convidados a reprogramar as rotas da vida para celebrar com dignidade a Páscoa da Ressurreição do Senhor. Pedagogicamente, a Liturgia nos ajuda e orienta a fazer uma ampla, profunda e rigorosa revisão de vida a fim de mudar (converter!) o que for necessário para experimentar a comunhão com Jesus Cristo e sua Mensagem. A quaresma é tempo privilegiado para avaliar as ações e muito honestamente assumir que há falhas e fragilidades que ainda precisam ser superadas.

A Tradição da Igreja e o Magistério, baseados nas Sagradas Escrituras, ensinam que no tempo quaresmal devemos intensificar a prática de alguns exercícios. Tais exercícios são bem-vindos ao longo de toda a vida, mas neste tempo ficam vinculados ao seguro propósito de auxiliarem na conversão:

A esmola ajuda no aperfeiçoamento da caridade, por meio da qual evidenciamos o amor a Deus manifesto concretamente nos irmãos e irmãs que precisam de nossa sensibilidade e ajuda;

a oração fortalece a intimidade com Deus e impulsiona-nos à obediência e ao reconhecimento de nossa condição de criatura, além de robustecer nossa fé;

o jejum nos recorda de nossa origem (pó da terra), lembra-nos da importância de cultivar valores que extrapolam o mundo material, afinal, “nem só de pão vive o homem…” (Mt 4, 4).

Os exercícios quaresmais são, inicialmente, uma prática pessoal e individual, ou seja, devemos praticá-los como estratégia a serviço de nossa conversão pessoal. Vale dizer: os exercícios quaresmais me ajudam a converter dos pecados que me afligem enquanto pessoa, enquanto indivíduo! Por outro lado, há outra dimensão da conversão: a comunitária, social; há falhas, pecados, ofensas que são coletivamente cometidos; que são estruturais; que decorrem de atividades institucionais e coletivas.

A conversão pessoal é essencial, mas não resolve grandes problemas, dores e ofensas que estão no plano social, comunitário, coletivo. Há situações que transcendem a ação individual e demandam uma conversão comunitária, coletiva, social. A não conversão social potencializa situações de tirania e sofrimento que ferem as pessoas e as desumanizam, portanto, jamais pode ser ignorada. A Páscoa cristã não comunga com a falta de sensibilidade à dor que dói nas pessoas; não nos permite ser indiferentes aos problemas que assonam nossa sociedade, ainda que tais problemas não nos atinjam diretamente.

Com o objetivo de nos permitir refletir sobre temas concernentes à nossa conversão pessoal e social, a Igreja no Brasil promove, desde 1964, no tempo quaresmal, a Campanha da Fraternidade. A CNBB escolhe um tema relevante, convida especialistas (de dentro e de fora da própria Igreja), elabora um texto-base que serve de referência para as atividades da Campanha.

O texto-base não reflete as opiniões das pessoas que o elaboram, portanto não trata de um artigo de opinião baseado nas subjetividades de algumas pessoas que compartilham certos pontos de vista. O texto-base da Campanha da Fraternidade goza de rigorosa fundamentação nas Sagradas Escrituras, na Tradição, em bibliografias de renomados especialistas, em estatísticas etc. Trata-se de um texto capaz e apto para participar de debates nas mais diversas esferas públicas da sociedade, além, é claro, de ser aprovado pelos órgãos competentes da CNBB.

Algumas pessoas, seguindo opiniões de críticos da CNBB e da Igreja, acusam a Campanha da Fraternidade de interditar a boa vivência quaresmal, como se a Campanha viesse para competir com a quaresma ou mesmo para substituí-la. Isso não é verdade! A proposta da CF segue na direção de harmonia e comunhão com a espiritualidade quaresmal. A Campanha da Fraternidade serve para contribuir com um processo mais amplo de conversão; para nos ajudar a perceber a importância de uma conversão que vai além de nós mesmos; serve para aperfeiçoar nossa consciência cristã quanto à inafastável necessidade de cuidar e salvar a pessoa humana integralmente e desde o tempo presente.

O tema escolhido e preparado para este ano de 2022 é Fraternidade e Educação. O lema, cuja função é direcionar nossos olhares, é o versículo bíblico retirado do livro dos Provérbios: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31, 26). A Igreja demonstra-se preocupada com a temática da educação e nos conclama a refletir sobre o tema a fim de oferecermos nossa parcela de contribuição para a superação das diversas situações que impedem a educação de promover sua mais relevante finalidade: humanizar as pessoas e prepará-las para uma efetiva solidariedade com todas as formas de vida.

José Luciano Gabriel – Diác. Permanente da Diocese de Valadares

Fonte

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