Coletiva de imprensa de apresentação da “Laudate Deum”

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Laudate Deum: “Não podemos deixar aos nossos filhos apenas bens, devemos deixar-lhes princípios, esforços para mudar o mundo”.

Padre Modino – Vatican News

Refletir sobre a Laudate Deum a partir de diferentes testemunhos, em um ambiente privilegiado, os Jardins do Vaticano, foi o objetivo da coletiva de imprensa organizada um dia após o lançamento dessa exortação apostólica que o próprio pontífice apresenta como uma segunda parte da Laudato si’, escrita há oito anos.

Enfrentando a mudança climática

Analisando diferentes aspectos do texto de Francisco, tanto presencial quanto virtualmente, foi aprofundado um texto que mostra as consequências da mudança climática, algo que impacta especialmente nos mais desfavorecidos, segundo Giorgio Leonardo Renato Parisi, Prêmio Nobel da Física de 2021. Em sua reflexão, ele pediu que as mudanças climáticas sejam enfrentadas, reconhecendo que isso “exige um imenso esforço de todos”, destacando a necessidade de uma maior atuação por parte dos países que mais poluem, pedindo acordos internacionais estáveis e verificáveis, mas também que uma nova cultura seja criada nas famílias, com o objetivo de gerar transformações.

O físico italiano enfatizou a necessidade de levar recursos aos países menos desenvolvidos, dando como exemplo os painéis fotovoltaicos na África, onde não há recursos para isso, o que exige um pacto mundial global. Ele também pediu uma melhoria na educação, especialmente para as mulheres, nesses países. Por fim, ele destacou algumas das ideias do texto: falta de ação suficiente, superação de conflitos internacionais, necessidade de humanidade solidária e evitar pontos de ruptura.

Coletiva de imprensa

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Uma conexão que vem de Deus

Uma conexão que vem de Deus, como foi testemunhado da Índia, por Vandana Shiva, cientista, ativista e ambientalista (via internet);  algo que deve nos levar a superar o orgulho destrutivo, a descobrir a conexão com um universo sagrado. A partir da experiência do país, foi feito um apelo para que se desenvolva um tipo diferente de economia, pois a Índia é capaz de produzir alimentos mais saudáveis a partir da proteção da terra, o que deve levar ao fim das práticas prejudiciais ao planeta, gerando soluções criativas, o que nos leva, com o Papa Francisco, a entender que o paradigma tecnocrático não é a solução, o que exige cuidar da Terra e do próximo como um caminho para o porvir.

A Laudate Deum nos ajuda a descobrir o momento dramático em que vivemos, nas palavras de Carlo Petrini, gastronomo, sociólogo e ativista (também via internet), que denunciou a falta de medidas decisivas por parte dos governos nos últimos anos, com “governos ineficazes e incapazes, que desenvolveram condições que levaram o meio ambiente a uma situação irreversível”. Isso exige ações para conter o acidente ambiental diante de uma situação difícil que não é fácil de administrar em nível institucional, o que representa uma situação extremamente crítica. Ele também pediu a condenação do negacionismo, que “está se tornando uma barreira contra a luta contra as mudanças climáticas”.

Isso exige um impulso da sociedade civil que possa promover um clima diferente, daí a importância dos movimentos que nascem de baixo para cima, considerando o documento pontifício como “uma das últimas oportunidades para mudar o curso e tomar consciência de que não podemos olhar para o outro lado”.

Coletiva de imprensa

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Agir agora

A importância de nossa responsabilidade, de que temos que agir agora, foi abordada por Jonathan Safran Foer, escritor, que apontou a necessidade de despertar o mundo, de abrir os olhos para descobrir o que está acontecendo, dando como exemplo o que aconteceu com os judeus na Polônia ocupada pelos nazistas e a incapacidade de acreditar na verdade. Ele disse que “sabemos que a situação vai piorar, mas não nos sentimos envolvidos, estamos diante de uma história que não somos capazes de aceitar”. Daí a necessidade de enfrentar as situações, afirmando que aceitar a verdade não é fácil.

De acordo com o escritor estadunidense, “sabemos que estamos colocando em risco as gerações futuras, mas não estamos dispostos a mudar nosso comportamento”, afirmando que o que fazemos não é suficiente, mas não queremos considerar ações diferentes. Insistindo em mudanças em nível político, com mudanças estruturais, mudanças legais, aprimoramento de fontes renováveis, ele disse que temos que mudar pessoalmente, para ajudar as pessoas a serem mais poderosas na tomada de decisões concretas.

Isso se deve ao fato de que “as revoluções coletivas nascem do indivíduo, e a soma de diferentes decisões pode ajudar a mudar o mundo”. Ele também se referiu ao chamado alimento ético, a não ser catastróficos, a compromissos para evitar uma catástrofe e garantir o porvir, enfatizando que “não podemos deixar para nossos filhos apenas bens, temos que deixar princípios, esforços para mudar o mundo”.

Líderes políticos a serviço dos combustíveis fósseis

Os jovens, entre os quais se encontram hoje os mais comprometidos com o cuidado da lar comum, que é uma razão de esperança, testemunharam como estão se posicionando sobre as mudanças climáticas e o cuidado da lar comum. Luisa-Marie Neubauer, uma jovem ativista climática da Alemanha, testemunhou seu compromisso, juntamente com milhões de jovens nos Fridays for porvir, com base no que vivenciou em sua cidade natal, Hamburgo. A jovem alemã disse estar assustada com “a maneira como nossos líderes respondem à crise”, empenhados em “atender aos interesses dos combustíveis fósseis e evitar mudanças reais”, um caminho que “coloca em risco nossa segurança planetária”.

A jovem denunciou que os governos “em vez de responsabilizar aqueles que continuam a queimar combustíveis fósseis, os governos de todo o mundo começaram a criminalizar aqueles que defendem a terra e a vida”, dando exemplos disso. A partir daí, criticou a postura do Norte global, “uma crise de cultura, de uma humanidade que não conseguiu estabelecer uma relação profunda com nossos recursos naturais”. A isso se soma “a crise de esperança”, que a levou a se questionar o que lhe dá esperança, destacando os apelos feitos na Laudate Deum nesse sentido, pedindo a todos que sejamos ativistas, nos moldes propostos pelo Papa, “uma revolução coletiva, cultural e espiritual”, na qual a Igreja Católica “se torne uma verdadeira aliada”.

Destruímos nossas condições de existência

Benoit Holgand, um católico praticante de 25 anos, membro do movimento “Lutte et Contemplation”, disse estar “ciente do perigo climático que estamos enfrentando”, demonstrando sua angústia diante de uma humanidade que “está destruindo suas próprias condições de existência”. Em seu discurso, ele destacou três pontos da exortação apostólica: uma resposta política e da sociedade civil à crise climática; o abandono dos combustíveis fósseis; a mudança para o amor e a fé em Deus. A partir daí, ele fez um apelo para “crescermos em nosso relacionamento com Cristo, com nossos irmãos e irmãs e com o mundo ao nosso redor”, para nutrirmos nosso relacionamento com Deus.

Um migrante, Jubran Ali Mohammed Ali, de 28 anos, nascido na Líbia e que chegou à Itália em 2020, contou sua experiência em seu país natal, onde destacou as consequências da guerra e, ultimamente, do ciclone Daniel, com 11.000 mortos e 33.000 desabrigados. Diante dessa situação, ele disse esperar que seu país mude, algo que ele havia experimentado após o ciclone, com ajuda mútua, abandonando as divisões e a dor do passado. Ele também disse esperar “que todas as pessoas aprendam a respeitar a natureza e a proteger nossa lar comum, a Terra”, agradecendo ao Papa Francisco por “suas palavras de afeto para nós, migrantes e refugiados”.

Tome uma atitude agora ou não sobreviveremos

Outra jovem, via internet da Índia, Ridhima Pandey, destacou a importância da ênfase da Laudate Deum na palavra crise, que ela considera crucial quando se fala em mudança climática. Daí a importância de descobrir as urgências, mostrando seu apoio ao Papa Francisco como ativista do clima e enfatizando que “é preciso agir agora ou a humanidade não sobreviverá”.

Por fim, a jovem siciliana Alessandra Fermentino, da Ação Católica e do Movimento Laudato si’, contou a experiência de sua ilha com os incêndios e os danos que causaram à natureza, aos monumentos e ao número de mortes. Incêndios que ela denunciou como o resultado de décadas de decisões ruins, enfatizando a importância de gestos como o Tempo da Criação. De acordo com a jovem italiana, nós nos acostumamos a um cenário de morte que nos assusta apenas quando está perto de lar. É essencial ouvir o grito da Terra e responder com um chamado à vida, trabalhar em conjunto com os outros e assumir que cuidar de nossa lar comum precisa da ajuda de todos, pedindo para fazer tudo o que estiver ao nosso alcance.

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